sábado, setembro 05, 2015

DO WHAT YOU WANT TO DO

Que os Beatles sempre foram muito empenhados na inovação das suas músicas e nas suas gravações, não é segredo. Praticamente, isso começou com a distorção na introdução de I Feel Fine, acidentalmente provocada por John, que exclamou na hora: "- Dá para gravar isso?". 

Mas, se não fosse um sujeito que estivesse aberto a essas inusitadas solicitações, chamado George Martin, provavelmente muitas delas teriam ficado apenas na ideia. Ele sempre fez de tudo para inserir nas gravações os pedidos dos Beatles e jamais disse 'não' antes de tentar o experimento, por mais impossível que pudesse parecer. Ave, George Martin! Há muita gente entendida que o defende como o quinto beatle. 

Quando George, o Harrison, inseriu a cítara em Norwegian Wood, do álbum Rubber Soul de 1965, a coisa decolou em voos cada vez mais altos. Tanto que, gradativamente, ficava mais difícil reproduzir ao vivo as novas faixas, um dos diversos motivos que puseram fim às turnês. 

Aí veio o álbum Revolver, de 1966, o grande salto. Na música Yellow Submarine o estúdio foi tomado pelos mais extravagantes objetos como banheiras, correntes, apitos, bumbos, - inclusive uma máquina registradora, que mais tarde apareceria na música Money do Pink Floyd (álbum Dark Side Of The Moon, 1973) -, com os quais os Beatles e o seu séquito (Mal Evans, engenheiros de som, Neil Aspinall e até Patty Boyd) produziram os mais diversos e variados sons ouvidos naquela gravação. Os metais de Got To Get You Into My Life, as guitarras invertidas de I'm Only Sleeping e as colagens de Tomorrow Never Knows, sem contar o maravilhoso quarteto de cordas de Eleanor Rigby, foram os pontos altos de um novo som que espantou o mundo. 

É... Aqueles moleques que queriam apenas segurar a sua mão estavam deixando o ceticismo da crítica de queixo caído. E o resto da história sabemos muito bem. 

Bom, é muito difícil proclamar quem é o mais experimentalista dos Beatles. Assunto para discussões homéricas. Porém, é inegável que Paul foi o que mais se aventurou pelo panorama artístico de Londres nos anos 60 e absorveu muita coisa diferente. John, para mim, já tinha essa atitude de procurar novos sons e imagens desde que nasceu. George nunca acomodou e também lançou o seu experimental álbum Wonderwall em 1968, composto para se tornar trilha sonora de um filme anos 60 de Joe Massot. E Ringo? Bom, Ringo não se acabrunhava e nem ficava perdido quando precisava inserir a bateria - e/ou outros instrumentos de percussão - nas músicas que lhe eram mostradas. 

E assim viemos parar no ano 2000, quando Peter Blake (designer da capa do álbum Sgt. Pepper's de 1967 - outro arroubo!) solicitou a Paul que ele criasse algo musical e com um clima, um espírito de Liverpool, para que fosse usado em uma exposição de arte na Tate Galeria. Paul não se intimidou e produziu o Liverpool Sound Collage, um EP com cinco músicas que usam partes de sessões de gravação dos Beatles na década de 60, além de uma colagem de sons feita na cidade natal deles, Liverpool. 

E uma dessas músicas/colagens ouviremos aqui hoje: Free Now. Nela você perceberá os Beatles conversando em estúdio (logo no ínicio George Harrison dá instruções para a gravação de Think for Yourself dizendo: "- The bit that John finally got just after that. And we will do both of the 'do what you want to do'.") e também a participação da banda galesa Super Furry Animals. Som, muito som na caixa! Listen!

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